Rascunho de Ensaio Acadêmico
CÉSAR, Alan M.
Brasil: Mudando a Cultura
Ao se falar sobre as mudanças culturais e de opinião que têm ocorridos
no Brasil, pensa-se e retorna-se ao século XIX, época em que se inaugura um
novo jeito de pensar e de descrever o país na modernidade do ocidente. A
geração de 1870, por exemplo, foi a grande responsável pelo surgimento de
ideias positivistas e evolucionistas no Brasil, ajudando a fomentar discussões
intelectuais da época. Segundo Veloso, Mariza, Madeira e Angélica, essas
discussões incluíam temas relacionados à raça e ao meio geográfico.
Antes disso, as mudanças eram lentas e a influência de Portugal
estava completamente arraigada nas raízes internas brasileiras. Questões vinculadas
à razão, à ciência, ao progresso e à evolução marcam o século XIX e assentam o
processo modernizador no âmbito nacional, contrariando o rumo que o país estava
seguindo antes do início desse processo.
A partir desse momento, intensificam-se os assuntos sobre a vida
cotidiana, o trabalho humano e a estrutura da linguagem, propondo-se uma
organização para as disciplinas científicas. E enxergo na reorganização dessas
disciplinas uma configuração acertada para época. Contudo, formas estabelecidas
nos estudos da língua, geografia, história, ou seja, a área de humanas e
algumas da tecnológica se tradicionalizaram e apenas hoje começam a passar por
uma reflexão. Imprimiram um método anti-reflexivo e não ajudou, em parte, para
a construção e formação de cidadãos críticos.
O que se observar é a necessidade de mudanças em tempos e tempos,
adaptando-se às novas realidades. Ventura, 1991 Apud Veloso et al, 2000, atentou para isso ao falar do fixismo do
pensamento clássico:
Surge um conceito evolutivo
de história, que trouxe a temporalização das estruturas de conhecimento, ao
romper com o fixismo do pensamento clássico em que o tempo não era concebido
como princípio de desenvolvimento para os seres humanos. (p.61)
Como disse, essas ideias emergentes foram fundamentais e tiveram
grande importância na constituição do que somos hoje, na montagem do pensamento
do novo mundo. Precisava-se criar uma identidade para um povo altamente miscigenado
e preso aos costumes e à economia da Europa, ou seja, liberdade e progresso
eram as palavras chaves. No segundo momento de necessidade de mudanças, o país
mais do que nunca se vê ameaçado pela baixa qualidade observada na educação de
seu povo, fator que compromete a economia, a política e a imagem de um país que
deseja a classe de primeiro mundo. Há uma corrida contra o tempo: atingir o
sonho de se desenvolver antes de envelhecer (país) e investir no ensino para
mostrar que não somos tão ignorantes como os índices apontam.
Voltando ao passado, pensava-se que o liberalismo fosse capaz de um construir na América Latina pátrias constituídas
e formadas pela arte, ciência e política. A arte se mostrou tímida, a ciência lenta
(e boba por perder tantas patentes) e a política coronelista e em prol de
interesses particulares. Diante disso: herdamos a expertise dos estrangeiros e
a inocência indígena?
Anteriormente, o ideário brasileiro se prendeu ao descobrir valores
que pudessem dar sustentação a sua identidade, como a nossa bela natureza e ao
nosso heroico índio (nunca vi um herói tão maltratado e com um final
desprestigiado), esquecendo-se, portanto, de ver o outro lado: o crescimento
nacional. Fomos incapazes de nos culturalizar e crescer ao mesmo tempo? As
outras nações conseguiram fazer isso por que eram experientes? Certo que as
nações antigas hoje sofrem grandes perdas, mas, não podemos esquecer que
tiveram séculos e até milênios de gozo. E nós? Vamos ter pelo menos um século
de gozo? De que e quem dependerá essa resposta? A solução estaria apenas nas
mãos dos governantes? Como cidadãos, podemos mudar essa cultura (esse rumo) com
algo que vá além de nosso mísero voto?
Algumas das poucas mudanças vividas neste solo se deram na vida
social, justamente, pela dinâmica entre a cultura e a política, incluindo a
estética (responsável pela fisionomia facial do país), que permitiram uma nova
configuração pós-colonial ao Brasil. Contribuíram para isso a criação de
instituições culturais como a Imprensa Régia, Biblioteca Real, o Banco do
Brasil, o Jardim Botânico, o Museu Imperial, entre outros. No entanto, essas instituições
só davam acesso à elite - o ingresso a tais ambientes era vetado às classes
marginalizadas da sociedade.
Quanto às marcas de influências incutidas ao longo dos anos no
Brasil, o Rio de Janeiro se mostra o verdadeiro celeiro de ordem de mudanças. Até
hoje é centro de prestígio nacional, tanto no meio de comunicação como na
reprodução da linguagem oral, característica advinda dos meios midiáticos contemporâneo.
O Rio de Janeiro, sede da
corte, palco das transformações urbanas mais visíveis, tornou-se o principal modelo
dos novos hábitos, dos novos costumes, difundindo-os por todo o Brasil. (p. 64)
Voltando a falar da intervenção estrangeira aqui, vê-se que a
imagem brasileira se construiu sobre a sua natureza virgem aberta para molduras
que foram preenchidas por missões artísticas e científicas dos viajantes do
período colonial. Mas, durante o século XIX, os valores e modelos lusitanos
começam um processo de perda de força, oportunizando espaços para outras
culturas que se mostravam crescentes, na época, como a francesa. A França,
durante esse período, transformou-se num mediador de culturas e acordos, tanto
para Europa como para a América Latina. Observo, então, que o Brasil continuava
com dificuldades de ser brasileiro, era português, era francês. Hoje, talvez,
sejamos norte-americanos, estamos na era do e-mail,
do download. Poderíamos apenas ser
tocados por outras culturas, mas quase sempre somos possuídos. Não sei se isso
é ruim.
No Brasil e na América
Latina, os movimentos independentistas suscitaram sentimentos de forte cunho
nacionalista. A nação, nesse momento, é concebida por intermédio da noção de pátria,
que se materializa em uma territorialidade e se define pelas repetidas
representações de identidade contidas na natureza incomensurável e selvagem dos
trópicos. (p.69)
Algumas coisas realmente começaram a mudar, isso, também, já volta
do século XVIII, pois, embora tenhamos o mesmo idioma de Portugal, já somos bem
distintos quanto à sonorização da nossa linguagem. O português brasileiro é
leve e doce, enquanto o de Portugal me parece carregado e borriçado. Além disso,
começamos a empeçar e sintetizar ideias estrangeiras (fenômeno mais recente).
Portanto, atentando para todo este processo de mudança na cultura
brasileira, interprendo que a busca por nossa identidade patriarca já se foi e
não deve mais focar nesse discurso. Já estamos configurados e classificados
positivamente e/ou negativamente, dependendo do ângulo observado. Deixamos,
assim, a História Natural no passado. E seguindo o que se vê na poesia e a na ficção
brasileira, chegou o momento de nós, agora, intervimos nas outras culturas, ou
seja, a vara de bulir está em nossas mãos, a depender da coragem.
Utilizei como referência o texto:
VELOSO et al, Século XIX: Paisagens
do Brasil.
In: Leituras Brasileiras.
São Paulo. Paz e Terra, 2000.
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