Rascunho rápido - DESMUNDO


“DESMUNDO”

Por Alan César

Acredito que uma das primeiras curiosidades que devíamos ter, quando nos tornamos conscientes de que vivemos em uma sociedade, é a busca pela nossa identidade e a nossa origem. Como será que era a vida de meus conterrâneos, antigamente?

Surpreendi-me ao ver que não conhecia o filme Desmundo, Brasil, 2003, direção de Alain Fresnot, partindo do princípio de que se trata de um valioso documentário e que devia, ao menos, ter maior divulgação para os brasileiros. O mais incrível desse filme está na linguagem reproduzida pelo elenco. Depois de muito estudo e consulta, supõe-se, o português arcaico se fez presente nesse enredo. Para quem pensa que se podia entender o idioma português daquela época, engana-se, e a maior prova disso está nas próprias cartas da época, as quais parecem pertencer a outro idioma e por muitas vezes lembra muito o espanhol; precisei ler a legenda do filme em português brasileiro atual para acompanhar a história.

Quanto à narrativa encontrada nessa película, vê-se uma história dramática de meninas que viviam em conventos para serem religiosas e tiveram os seus destinos alterados para se casarem com os colonizadores, mantendo-se, portanto, a tradição de casamentos entre brancos e à moda cristã. Com isso, o filme não apenas aborda a questão da linguagem como, também, os aspectos culturais que fizeram parte da época, fato este que ajuda a entender o forte enraizamento dos dogmas católicos estendidos ao povo brasileiro ao longo dos séculos seguintes.

Uma dessas meninas é a jovem Oribela. Ela é obrigada a casar-se com Francisco de Albuquerque, homem rude e dono de um engenho distante do litoral. Desesperada, tenta fugir, pois, se vê num ambiente inóspito e com pessoas estranhas, além de perceber relação de incesto entre seu marido e sua sogra - fato evidenciado pela filha e ao mesmo tempo irmã de seu marido, portadora de Síndrome de Down. Em diálogo inóspito com a mãe de Francisco, esta lhe confessa que ficou com o filho, sozinhos, na nova terra por muito tempo, dormiam juntos e os desejos pecaminosos foram mais fortes, reforçando, assim, o desejo de Oribela retornar a Portugal.

Para finalizar, embora o autor e o diretor do filme tenham almejados inserir um ar romântico entre os protagonistas no fim da história, a distância temporal e os fatos incomuns aos dias de hoje contribuem para um olhar mais crítico que compreensivo sobre os costumes da época. Um nascimento de uma criança no final do filme me pôs dúvida acerca de quem viria a ser o verdadeiro pai, no entanto, omitirei esse discurso a fim de que quem leia esse texto não tenha suas perspectivas alteradas sobre o desfecho final ao assistir Desmundo.

Comentários

  1. Parabéns meu amor, belo texto!
    Ah, claro que verei o filme tá.
    Beijoquinhas

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