O nosso ponto de vista está associado diretamente à cultura onde estamos inseridos. Por isso, nos assustamos com opiniões ou práticas sociais diferentes das nossas. E o primeiro erro recai sempre em acreditarmos que a nossa forma de pensar é a “normal” e que as outras sociedades com os seus diversos modos de viverem são as “esquisitas”. Tipo de sentimento recíproco entre povos distintos. Apenas um conhecedor das variantes culturais para receber ou ver o funcionamento de novas culturas de forma mais “digerível”.
Para
Laraia, “homens de culturas diferentes usam lentes diversas e, portanto, têm
visões desencontradas das coisas”. Por exemplo, os homoafetivos que são tão
discriminados em determinados locais eram, totalmente, respeitados em outros. O
mesmo se pode dizer da prostituição, vista unicamente como uma chaga social,
antes, tinha o seu aspecto positivo, já que contribuía para arrecadar dinheiro
para o casório.
Entre
algumas tribos das planícies norte-americanas, o homossexual era visto como um
ser dotado de propriedades mágicas, capazes de servir de mediador entre o mundo
social e o sobrenatural, e portanto respeitado. Um outro exemplo de atitude
diferente de comportamento desviante encontrados entre alguns povos da
antiguidade, onde a prostituição não constituía um fato anômalo: jovens da
Lícia praticavam relações sexuais em troca de moedas de ouro, a fim de acumular
um dote para o casamento. (LARAIA, 1995,
p. 70)
Para nos compreender como
humanos, na tentativa de respeitarmos o outro, é preciso ampliar o leque de
como ver o mundo e nos desvencilhar de nossas únicas formas tradicionais de
pensamento. Ou seja, a herança cultural nos transforma em seres impiedosos com
os demais comportamentos e posturas humanas.
Pequenos detalhes diários
confirmam o quanto os povos são diferentes. O ato de rir, por exemplo, surge
por diversos motivos. O que pode ser engraçado para um americano, pode não
fazer sentido cômico para um japonês.
O
repetitivo pastelão americano não encontra entre nós a mesma receptividade da
comédia erótica italiana, porque em nossa cultura a piada deve ser temperada
com uma boa dose de sexo e não melada pelo arremesso de tortas e bolos na face
do adversário. Voltando aos japoneses: riem muitas vezes por questão de
etiqueta, mesmo em momentos evidentemente desagradáveis. (LARAIA, 1995, p.72)
Até nos aspectos físicos e
biológicos é possível destacar detalhes significantes de nossas diferenças.
Laraia descreve, ainda, que o ato de dar à luz é para nós comumente visto com
mulheres deitadas; em outros povos, como a Índia, as mulheres têm os seus bebês
em pé e algumas índias brasileiras têm os seus filhos de cócoras.
Outro aspecto totalmente
estranho para nós é a realização de alguns rituais de boas maneiras que exigem
um forte arroto, após a refeição, como sinal de agrado da mesma, ressalta
Laraia.
Considerar o nosso modo de
vida como o mais plausível e naturas constitui-se o que se denomina de etnocentrismo. Infelizmente, essa
tendência é responsável por muitos dos conflitos sociais e religiosos desde a
antiguidade até os dias de hoje.
Alan César
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